Conferência A
19/05/09 : 16:30 – 18:15
Auditório Sônia Viegas
Sophie Houdart (Paris X/CNRS)

Faire science ailleurs. Ethnologie d’un laboratoire japonais.
Comment être Japonais et scientifique ? Comment s’inscrire si véhémentement, au cours de l’histoire moderne, dans la spécificité, la localité, pour tout dire la revendication culturelle, et participer si manifestement au cours de la science, que l’on dit « sans frontière » ? Comment appartenir à l’un et à l’autre mondes (le grand, promis par l’universel scientifique, et le petit, inscrit dans le local) ? Sur quelles bases ? Suivant quelles modalités ? Ces questions, conçues comme de véritables paradoxes ontologiques, sont quelques-unes de celles auxquelles des scientifiques japonais tentent de répondre, dans leur activité quotidienne, dans un laboratoire de biologie japonais au milieu des années 1990. Sur la base d’une ethnographie intensive menée dans ce laboratoire, je me propose de réfléchir aux enjeux, qui sont entre autres des enjeux identitaires, d’une pratique scientifique qui n’est au final uniformisée qu’en apparence. Dans cette enquête, le « Japon », sa science, plus largement sa faculté d’innovation, se posent en opposition et en marge de l’Occident. La pratique scientifique s’y définit moins comme une pratique universelle, issue d’un mode de raisonnement et d’expérimentation formels, que comme une pratique internationale qui oblige à composer avec l’histoire et la culture du pays, avec une certaine conception de la nature, du savoir ou de l’autorité. Je tenterai de montrer comment le laboratoire japonais offre une version de la science et sa pratique, qui déjoue profondément les présupposés sur lesquels repose la version occidentale.

Fazer ciência alhures: etnologia de um laboratório japonês
Como ser japonês e cientista? Como se inscrever de forma tão veemente, durante a história moderna, na especificidade, na localidade, em resumo, na reivindicação cultural, e participar tão manifestamente do desenvolvimento da ciência, dita “sem fronteira”? Como pertencer a um e a outro mundo (o grande, prometido pelo universo científico, e o pequeno, inscrito no local)? Sobre quais bases? Segundo quais modalidades? Essas questões, concebidas como verdadeiros paradoxos ontológicos, são algumas daquelas que os cientistas japoneses tentam responder em sua atividade cotidiana, num laboratório de biologia japonês em meados dos anos 90. Tendo por base uma etnografia intensiva conduzida nesse laboratório, proponho-me a refletir sobre os desafios, que são, entre outros, desafios identitários, de uma prática científica que afinal não é uniformizada senão em sua aparência. Nesta pesquisa, o “Japão”, sua ciência, e de maneira mais geral sua faculdade de inovação, se colocam em oposição e à margem do Ocidente. A prática científica aí se define menos como uma prática universal, originária de um modo de raciocínio e experimentação formais, do que como uma prática internacional que obriga a compor com a história e a cultura do país, com certa concepção da natureza, do saber ou da autoridade. Tentarei mostrar como o laboratório japonês oferece uma versão da ciência e de sua prática que desfaz profundamente os pressupostos sobre os quais repousa a versão ocidental.

Conferência B
20/05/09: 17:00 – 18:45hs
Auditório Sônia Viegas
Físico também é gente
Ennio Candotti (UEA, Musa e SBPC)

Resumo A natureza vista por um físico. A escolha do ponto de vista em que os fenômenos se apresentam com a máxima simplicidade. A perspectiva e  a janela de observação.  A tela do pintor, a experiência do físico e as linhas e cores com que desenham o que eles observam.  O referencial. A representação do que acontece na natureza. A luz e a gravidade. Os exemplos do arco íris e da queda da Lua.  A lenda Ticuna da  origem  da Lua. O Musa (Museu da Amzônia), um museu na floresta, a representação e a narração dos fenômenos  naturais. As diferentes percepções, os olhares e a sua narração.  Dos bichos, dos físicos e de outras gentes.

Conferência C
22/05/09: 
17:00 – 18:30
Auditório Sônia Viegas
Michael Fischer (MIT, USA)

The Geoid as Transitional Object
The geoid — moiré-like, simultaneously material earth and mathematical shape — has drawn me since my school days into worlds just beyond my current knowledge base, into realms inhabited by voices from the ancient past, the revolutionary modern, the geographically distributed, and the fabled worlds of terrestrial, marine, and satellite surveying, and, above all, into social worlds where the intellectual chase intersects with storied characters, competitions, and gendered conflicts

O geóide como objeto transicional 
O geóide – como num efeito moiré, simultaneamente terra material e forma matemática- me levou desde meus dias de escola para mundos que estavam além de minha base corrente de conhecimento, para reinos habitados por vozes do passado distante, do revolucionário moderno, do geograficamente distribuído, e para os fabulosos mundos das vigilâncias terrestres, marinhas e por satélite e, acima de tudo, para os mundos sociais onde a perseguição intelectual intercepta disposições históricas, competições e conflitos de gênero.

Mesa 1
20/05/09 : 09:30 – 12:00
Auditório Sônia Viegas
Tecnosciência e sociedade

– Renan Springer (debatedor | Sociologia/UFMG)

– Rodrigo Ribeiro (Engenharia/UFMG)
O Manifesto Humano: abelhas, “strings” e linguagem
Um dos fenômenos mais estranhos das últimas décadas, particularmente visível nos Estudos de Ciência e Tecnologia (STS), é o suicídio em massa dos sociólogos. Assim como os cultistas engoliram o composto de cianureto de “Jim” Jones com a intenção de sacrificar suas vidas, os sociólogos parecem determinados a abandonar o fundamento que sustenta suas vidas como um grupo distinto de acadêmicos – a ideia do social. Este movimento contradiz estudos existentes dentro da própria STS: se por um lado tem se demonstrado a necessidade da socialização e do conhecimento tácito para a enculturação em uma “forma  de vida”, por outro lado as fronteiras entre humanos e máquinas, cultura e natureza, e humanos e animais têm sido fortemente questionadas (Haraway, 1991; 2003). Este problema é exemplificado aqui pela análise de artigo sobre a “Linguagem das Abelhas” publicado na Social Studies of Science (Crist, 2004). O objetivo é simplesmente ressuscitar a distinção entre a “linguagem” das abelhas e a linguagem humana. A maneira de verificar isto é se perguntar se é possível para um observador não-enculturado inferir se o objeto de observação é ou não uma linguagem sem interagir com as entidades em questão.

– Ivan da Costa Marques (COOPE/UFRJ)
Movendo fronteiras – da política à antropologia das ciências e das tecnologias: a respeitabilidade de versões de realidade em disputa no combate à desnutrição infantil no Brasil
Busco por em discussão as linhas de fuga (Deleuze, Guattari) do programa alimentar Multimistura que demarcam três mundos ou versões da realidade: 1) uma divisão epistemológica positivista radical, absoluta, entre conhecimento científico e conhecimento popular, corpo e mente, natureza e sociedade, que outorga à ciência o direito exclusivo de ser assertiva quanto à realidade no território assim demarcado; é o mundo de um aparato nutricional bioquímico nos limites do corpo; 2) uma linha de fuga  de (1) traz à cena um mundo da alimentação de território expandido onde estão presentes entidades híbridas corpo-mente, natureza-sociedade; nesta versão da realidade fatos sobre alimentação e comida circulam, são feitos e desfeitos segundo interesses / atuações / negociações de coletivos heterogêneos; e 3) uma linha de fuga de (2) encena a metafísica empírica (Annemarie Mol, John Law, Bruno Latour) de um mundo da (des/)nutrição infantil habitado por corpo-mente-alma, uma versão da realidade onde os elementos bioquímicos se imbricam na complexidade de um relativismo máximo.

 Ivan Domingues (Filosofia/UFMG)
Três paradigmas das tecnociências – aspectos antropológicos
Fundamentos antropológicos das tecnociências: poupar esforço; proporcionar o conforto e a vida boa; solucionar problemas práticos. O paradigma de Prometeu: do titã derrotado antigo ao titão vencedor moderno. O paradigma de Fausto: a instalação da hybris e o reino da cultura faústica (sensual, hedonista e burguesa). O paradigma de Cyborg: a hibridação homem/máquina e o advento do pós-humano. O mal-estar antropológico: a natureza humana em questão.

Mesa 2
20/05/09 : 14:00 – 16:30
Auditório Sônia Viegas
O dado, a crença e as linhagens de antropólogos

– Lilia Schwartz (PPGAS/USP)
A construção do dado: empresa científica e a construção do dado racial em finais do século XIX no Brasil
O tema da raça, nomeado desta maneira sobretudo a partir de meados para o final do século XIX, vem sendo abordado de maneira frequente no pensamento social brasileiro. Se existem variações e ênfases distintas, o fato é que, nesse momento preciso, raça se transforma em “empresa científica”; uma construção “objetiva” a sanear inseguranças e ambivalências. O objetivo desta palestra é, a partir de um autor tão emblemático como de certa maneira maldito, Nina Rodrigues, analisar como a aplicação de modelos evolutivos e deterministas, acaba por transformar etnografia em “dado”, e a “realidade” em construção científica, não mais sujeita a outros tipos de comprovação. A partir de tecnologias apuradas –medições craniológicas; delimitações de estigmas; reconhecimento de características físicas, anotadas nos narizes, formatos labiais, olhares, tamanhos das testas ou das mãos –, a nova ciência pretendia objetivar o que era por definição impreciso, e trocava a “subjetividade” da cultura pela “certeza” da ciência, expressa no valor aferível das raças que compunham a nação, bem como em sua mestiçagem extremada. Nessa perspectiva, pouco importava o indivíduo que não passava de uma amostra de seu grupo racial. Essa era mesmo uma época em que o livre arbítrio virava balela e a cidadania era posta no pregão.

 Emerson Giumbelli (PPGSA/UFRJ)
A crença dos modernos: da ciência da religião à constituição da sociedade
No empreendimento mesmo de fundação do que pretendia ser uma abordagem cientifica da religião, no século XVIII, a noção de crença é crucial. Ela permitiu formular um conceito universal e genérico de religião. O empreendimento esteve associado a uma critica da religião, em vista da sua superação ou da sua conciliação com a ciência. Menos lembrada é uma dimensão positiva da mesma configuração, que se evidencia no principio, defendido pela modernidade, da “liberdade de crença”. Meu propósito é sugerir que esses aspectos positivos e negativos se transpõem para a constituição da própria ideia moderna de sociedade. Assim, liberdade e sujeição compõem os atributos dos indivíduos na sua relação com aquela sociedade. Trata-se, portanto, de abordar alguns aspectos da associação entre modernidade e crença, com a ajuda de dois autores: Talal Asad e Bruno Latour.

– Mariza Peirano (PPGAS/UnB)
Três comentários cândidos sobre a antropologia da ciência
A comunicação está formulada em torno de três comentários: o primeiro diz respeito ao lugar da antropologia da ciência no contexto geral do desenvolvimento da disciplina, aqui e alhures; no segundo, faço uma reflexão breve sobre o papel das linhagens intelectuais na antropologia; no terceiro, teço algumas observações sobre o recente artigo de Michael Fischer sobre as quatro linhagens que o autor aponta para a antropologia da ciência e da tecnologia.

Mesa 3
21/05/09 : 14:00 – 16:30
Auditório Sônia Viegas
Agência dos objetos: antropomorfismo ou miriateismo?

– Ana Maria Rabelo Gomes (debatedora | FAE/UFMG)

– Marcio Goldman (MN/UFRJ)
Pequena reflexão afro-brasileira sobre os fetiches
Partindo de diferentes materiais etnográficos a respeito do que outrora se denominou o ‘fetichismo’ das religiões afro-brasileiras este trabalho pretende explicitar as formas de pensar que, nessas religiões, conceptualizam os seres humanos, os viventes em geral, os mortos, as diferentes classes de espíritos e, por último mas não menos importante, as coisas e os objetos. A hipótese central é a da existência de um ‘vitalismo’ generalizado nessas religiões, segundo o qual modulações de uma força única constituem tudo o que existe e pode existir no universo de acordo com um processo de diferenciação e individuação.

– Pedro Peixoto Ferreira (CTeMe/Unicamp)
Quando o carro “pede marcha”: reflexões em torno da querença dos objetos
Proponho levar a sério a idéia comum, demonstrada por meio de depoimentos, de que o carro “pede”, “solicita”, “implora por” uma mudança de marcha através de, entre outras coisas, variações no som de seu motor. Em lugar de uma simples antropomorfização do carro (projeção da subjetividade humana sobre a objetividade mecânica), tentarei mostrar como a atribuição de uma querença ao carro sugere um processo mais amplo e complexo de individuação no qual a máquina se torna uma espécie de mediadora entre o humano e seu ambiente (redistribuições transversais de subjetividade e objetividade entre humanos e não-humanos). Serão consideradas diferentes maneiras de compreender e interpretar a solicitação de mudança de marcha atribuída ao carro, avaliando a rentabilidade teórica e a consistência interna em cada caso. A perspectiva genética da tecnicidade proposta por Gilbert Simondon será apresentada como uma valiosa contribuição para os estudos sócio-antropológicos da ciência e da tecnologia mais voltados para a dimensão operatória dos processos de associação.

– Eduardo Viana Vargas (PPGAN-LACS/UFMG) 
Uso de drogas e micropolíticas da possessão: notas sobre alienação (e sociedade)
Transferir para outrem, alhear; tornar louco, alucinar; tornar separado, desviar; renunciar a (um direito); perder a estima, malquistar; tomar rumo indesejável; desvirtuar; afastar, isolar. Esta lista diabólica não sumaria os atributos que costumamos emprestar às drogas, mas sintetiza os sentidos que o dicionário Houaiss empresta a outro famigerado verbete, o de alienação. Gabriel Tarde escrevera certa vez que, quando procuramos uma palavra para exprimir algo novo, ou cunhamos um neologismo, ou estendemos o sentido de um antigo vocábulo. Em seu livro mais conhecido ele tomou esta segunda via e refez o conceito de imitação. O que ocorreria se submetêssemos o conceito de alienação às torções desta segunda via? O que seria deste conceito que nos habituamos a carregar negativamente se o recarregássemos positivamente articulando-o, por mediação de uma investigação etnográfica das práticas de uso de drogas, com o enunciado tardeano segundo o qual a sociedade é a “possessão recíproca, sob formas extremamente variadas, de todos por cada um”? O que seria das drogas e da sociedade após esta recarga? E aonde isso nos levaria? Estas notas exploram estas questões à luz da hipótese sócio-antropológica fundamental segundo a qual não há ação (nem mundo) sem outrem; logo, que não há ação sem alien(-)ação.

Mesa 4
21/05/09 : 17:00 – 19:30
Auditório Sônia Viegas
Etnologia das ciências: cosmologias alteríndias

– Renato Stutzman (debatedor | PPGAS/USP)

– Guilherme José da Silva e Sá (PPGAS/UnB)
Entrando em órbita: repensando a agência antropológica e o posicionamento de seus satélites
Pensar a alteridade tem sido uma das mais célebres proposições da antropologia. Entretanto, as posições há muito consolidadas entre “observador” e “observado” – “nós” e os “outros” – raramente têm sido abaladas resultando em um histórico científico pautado em uma relação de “ponto fixo”. Esta idéia, calcada num referencial permanente (o observador, o antropólogo, o pesquisador), nos induz a pontos-de- vista recorrentes, e, por conseguinte a formas convencionais de produzir diferença. Ao propor o diálogo entre a etnologia e a antropologia da ciência pretende-se que o próprio ponto-de-vista antropológico possa ser descentralizado. Que orbitar em torno de sujeitos-objetos também nos sirva para que a antropologia reflita sobre os eixos que têm orientado seu movimento de rotação. Tocar neste “rabo-de- foguete” não constitui necessariamente uma tentativa inédita de simetrização, uma vez que propostas similares podem ser encontradas no decorrer da história de nossa disciplina. Sugiro apenas que uma etnologia das ciências deve ter por vocação o interesse nesta relação de deslocamento de olhares. Se a antropologia pode significar refletir/irradiar diferença, por que não generalizá-la rebatendo-a sobre nossa própria experiência?

– Silvia Pellegrino (PPGAS/USP)
Imagens e olhares: questões cruzadas em torno da autoria, copia e pertencimento
Esta fala visa apresentar algumas considerações sobre as transversalidades apreendidas em torno do tema das imagens sob diferentes modulações. Em linhas gerais tratarei de algumas relações entre olhares, duplicações, corpos e autoria quando se trata de diferentes concepções de imagem. Será parte da exposição as reflexões sobre imagens empreendidas por um grupo ameríndio e de outro alguns aspectos sobre as direitos de imagem sob a perspectiva ocidental. Interessa refletir sobre as questões em torno do pertencimento levantadas por essa relação.

 Stelio Alessandro Marras (PPGAS/USP)
Recintos e evolução
Uma abordagem etnográfica que passa por laboratórios de pesquisa básica em biologia e química, bem como em biotérios e laboratórios de pesquisa aplicada em biotecnologia, leva a reconhecer a produtividade dos recintos – ambientes de alta domesticação científica. A análise daquilo que os recintos laboratoriais permitem revela ontogênese de agentes sob interação “controlada”, seja em procedimentos de purificação de “formas orgânicas” (de “modelos animais” a proteínas “de interesse”), seja em procedimentos experimentais de teste (de aplicação de genes “alterados” à produção farmacológica). Permite ainda articular pensamento espacial (recintos) e pensamento temporal (evolução). É daí o interesse em examinar a obra de Charles Darwin, central à imaginação e à prática da modernidade, e que nos fornece, não sem ambigüidades, uma relação complexa entre ambientes, devir evolucionário de agentes, prática de domesticação, noção de natureza. Essas ambigüidades, como entre “conservação” e “variação” de “formas orgânicas”, é trazida para a reflexão a respeito dos mecanismos críticos próprios da modernidade.

Mesa 5
22/05/09 : 
14:00 – 16:30
Auditório Sônia Viegas
Culturas científicas e outras culturas

– Ruben Caixeta de Queiroz (debatedor | PPGAN/UFMG)

– Bernardo Oliveira (FAE/UFMG)
Cultura científica: um exame a partir de algumas de suas variantes históricas
Os esforços de divulgação e educação cientifica que vem sendo desenvolvidos progressivamente nos últimos anos têm como seu principal objetivo a promoção da cultura científica no Brasil. Mas no que consiste tal cultura científica? Em que medida ela se diferencia da noção de “mentalidade científica” e de “espírito científico” que foram almejados em outros momentos da história brasileira? Nesta comunicação pretendemos discutir a noção de cultura científica a partir da comparação das concepções de 3 importantes expoentes dessas idéias: Miguel Osório, um dos principais porta-vozes da Academia Brasileira de Ciências da década de 1920; Anísio Teixeira, o grande reformador da educação brasileira dos anos 1930 a 1960; e Calos Vogt, dirigente de agências e instituições acadêmicas do Estado de Sao Paulo e formulador de políticas de difusão científica.

 Jayme Aranha Filho (PPGSA/UFRJ)
Museus de história natural em duas câmeras
O modelo geral dos museus de história natural que encontramos hoje data de pouco mais de um século. Já bem estabelecidos como centros nervosos da produção de conhecimento sobre a natureza e a biogeografia das nações no século XVIII, eles atravessaram uma transformação crucial a partir da segunda metade do século XIX (e que alguns só viriam a adotar um século depois). É então que as coleções científicas – as séries de espécimes naturais arrebanhadas e ordenadas por gerações e que constituem o ‘núcleo duro’ dessa usina – são dividas em duas categorias, as de pesquisa e as de exibição, e são separadas as áreas de exposição pública e a de reserva técnica. No caso do Museu Nacional do Rio de Janeiro, que analiso, esta transição só se deu efetivamente em meados do século passado. Esta mutação histórica implica em rearranjos em vários níveis, mas eu gostaria, nesta exposição, de destacar algumas das suas implicações para os regimes de visualidade. Para tanto, pretendo explorar as aproximações possíveis entre a instauração dessa distinção e a descontinuidade quanto às concepções do que é ‘observador’ e dos modelos de visão que J. Crary, em um ensaio logo famoso, sugere teria ocorrido no início do século XIX, e que faz, ao contrário das interpretações tradicionais, a câmera obscura se distinguir radicalmente da fotografia e do cinema que depois se desenvolverão.

 José Antonio Kelly (MN/UFRJ)
Algumas reflexões sobre equívocos entre médicos, o Estado e os Yanomami do Alto Orinoco, Venezuela
O presente ensaio toma como ponto de partida uma reunião entre representantes do Ministério da Saúde e indígenas — entre eles, os Yanomami — realizada em 2002 para discutir alguns dos equívocos construtivos e limitantes que caracterizam a relação entre médicos (não-indígenas), seus procedimentos e medicamentos, e os Yanomami e suas comunidades. O ensaio procura colocar as perspectivas indígenas e não-indígenas em relação de mediação direta seguindo os preceitos metodológicos propostos por Roy Wagner e Eduardo Viveiros de Castro, explorando o potencial analítico do conceito de “equívoco controlado” (Viveiros de Castro, 2004)

Sessão de Trabalho 1
21/05/09 : 
9:30 – 12:00
Auditório Baesse
Inovações e modelagens sociotécnicas – I 

– Leonardo Fígoli (debatedor | FAFICH/UFMG)

– Rafael Antunes Almeida (FAFICH/UFMG)
Entes inclassificáveis: Las Casas, Sepúlveda e o debate de Valladolid
Largamente estudada e conhecida é a polêmica de Valladolid, na qual se opuseram dois destacados teólogos espanhóis, a saber, Bartolómé de Las Casas e Ginés Sepúlveda. Naquela ocasião, quando uma junta de intelectuais fora convocada a mando do imperador Carlos V, os dois referidos teólogos travaram na ante-sala de um castelo uma disputa sobre o estatuto ontológico de certos entes “inclassificáveis” do novo mundo – os índios. Pertenciam eles àquela classe de homens que Santo Agostinho descrevera no capítulo XIII do livro “ A Cidade de Deus” – isto é, compartilhavam uma descendência adâmica com os espanhóis? – , ou eram, antes de tudo, sodomitas e idólatras nos quais o historiador espanhol Fernandéz Oviedo esforçou-se por convertê-los? Tratava-se de subjugá-los imediatamente em atenção à teoria da superioridade natural aristotélica, ou antes, a grande operação consistiria em exortá-los à fé cristã através da persuasão do entendimento. Entre estas, seria possível enumerar incontáveis outras operações realizadas pelos dois querelantes neste debate quinhentista. Se por um lado Las Casas se esforçava por recrutar “aliados” a fim de “esticar as bordas ontologia européia” e classificar os índios no pólo da humanidade – e isto o fez através de vários deslocamentos – , Sepúlveda procurava aliar uma noção de direito natural clássica à idéia de lei natural – mais afim às sagradas escrituras – e justificar uma guerra justa contra os “novos bárbaros”. O objetivo deste trabalho é descrever esta controvérsia, com atenção aos movimentos dos actantes que nela operaram: seus esforços para rearranjar definições, promover modificações, mobilizar novamente antigos aliados. Trata-se, sobretudo, de descrever este debate com vistas a mapear que tipo de operações Las Casas e Sepúlveda realizaram quando fizeram passar a noção ocidental de pessoa por um verdadeiro tribunal. Dito de outro modo, procurarei seguir os rastros deixados por eles no momento em que a questão de saber se os índios constituíam gente ou bestas ainda pulsava, fazendo circular por ela bulas papais, querelas teológicas, debates sobre o sistema de ocupação de terras, teorias sobre a escravidão e até o destino das almas dos reis da Espanha.

– Messias Basques (PPGAS/UFSCar)
Terapêutica antroposófica, vitalismo e medicina
Este trabalho tem por objetivo uma reflexão experimental e exploratória em antropologia da ciência sobre um tema incomum e quase desconhecido na disciplina, sobretudo no Brasil: a terapêutica antroposófica. A partir da descrição dos modos pelos quais se deu o processo de introdução desta terapêutica no Sistema Único de Saúde brasileiro (SUS), no ano de 2006, este trabalho debaterá os seus fundamentos terapêuticos e epistemológicos, bem como a sua admissão no seio daquilo que configura o sistema médico ocidental, dito oficial, segundo as diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Saúde e Organização Mundial de Saúde (World Health Organization). A medicina antroposófica deriva das formulações do austríaco Rudolf Steiner e apresenta-se como uma abordagem médico-terapêutica de base vitalista e transdisciplinar, cuja proposta de relação entre natureza e cultura diverge do princípio objetivista que orienta a medicina ocidental. Os médicos antroposóficos partem do princípio de que a doença é um sinal de desequilíbrio interno que requer o tratamento não só do órgão debilitado, mas das próprias causas que provocaram o desequilíbrio. Essas causas estariam, por sua vez, na alma e no espírito do homem. Vis-à-vis, os antroposóficos definem a alma como a vida psíquica, a sensibilidade e os processos de empatia, e o espírito como a organização do eu, a autoconsciência. Isto posto, interessa-me problematizar o processo paulatino de incorporação pela medicina de práticas que antes figuravam sob a rubrica do charlatanismo e da cura pelas “más razões”, processo este que tem se caracterizado pelo agenciamento de saberes distintos. Como bem disse Isabelle Stengers, resta inquirir onde, nesse emaranhado de problemas, de interesses, de constrangimentos, de temores, de imagens, estaria a objetividade. Pois o argumento ‘em nome da ciência’ se encontra por toda parte, mas não pára de mudar de sentido. Para tanto, as publicações do “Observatório das Experiências de Medicina Antroposófica no SUS”, órgão criado pelo Ministério da Saúde, servirão como fontes de acesso aos critérios e parâmetros estabelecidos para averiguação da “eficácia” desses saberes e práticas. A introdução dessa terapêutica apresenta-se como oportunidade interessante para observar de que modo um regime de conhecimento oficial se abre ao oficioso, assim concebido no próprio texto da Portaria do Ministério da Saúde (n˚ 1.600, de 17 de julho de 2006) que dispõe sobre o tema: “a Medicina Antroposófica é um sistema médico complexo, de abordagem integral e dinâmica do processo saúde-doença, que oferece possibilidades para a ampliação da atenção à saúde por meio de técnicas, recursos e abordagens de baixa complexidade tecnológica”. Curioso notar que a justificativa para a introdução desses saberes outros no rol daqueles tidos como oficiais é a simplicidade tecnológica da sua terapêutica, perdendo-se de vista justamente aquilo que os seus idealizadores professam como cerne da antroposofia: a filosofia de vida que seus saberes e práticas implicam, e que aparecem como que despidos de complexidade ao serem purificados em sua admissão adequada à medicina.

– Jean Segata (PPGAS/UFSC)
A semelhança multiplicada: tecnologias para saúde e estética em pet shops e clíncas veterinárias
Altas taxas de triglicerídeos, hipertensão arterial e um iminente enfarto do miocárdio eram diagnosticados em um boxer a partir do exame emitido por um laboratório de análises clínicas da cidade, altamente recomendado por meu plano de saúde. A biópia de um tumor de uma poodle chegava de Belo Horizonte por sedex e preocupava tanto quanto o câncer de mama de uma outra cadela, com gravidez psicológica internada na clínica. A insuficiência renal do grande gato preto e branco com péssima diéta proteica poderia ser controlada com a administração de uma nova medicação manipulada numa respeitada farmácia da região. Hemodiálise, aparelhos ortodônticos, perfume francês, roupas de passeio, mordedores, meias, ou cds com músicas para meditação – isto foi apenas parte do cenário que encontrei ao iniciar o trabalho de campo de minha pesquisa de doutorado, ainda em andamento, que consiste em uma etnografia a partir de pet shops e clínicas veterinárias da cidade de Rio do Sul/SC, centrada no rastreamento e descrição das associações entre humanos e não-humanos. É a partir deste cenário, que neste trabalho procuro ensaiar uma primeira discussão sobre o uso de tecnologias para a saúde e a estética de animais de estimação, entendidas como parte dessas associações, onde objetivos são deslocados, caminhos são redefinidos e alteridades se intercambiam na emergência daquilo que faz fazer e que pode a qualquer momento redefinir identidades e relações, de modo a redefinir as próprias associações

– Gicele Sucupira (PPGAS/UFRGS)
Matemática, ciência ou ferramenta? Discussões sobre a matemática a partir da experiência das Olimpíadas de Matemática
A partir de um estudo etnográfico desenvolvido no ano de 2008 nas atividades das Olimpíadas de Matemática em Santa Catarina, que compreendem encontros com professores de educação básica, treinamentos de estudantes e provas realizadas ao longo de cada ano letivo, pretendo fazer uma análise exploratória sobre a Matemática tendo como base as discussões de Bruno Latour. As atividades das Olimpíadas em Santa Catarina fazem parte de um dos projetos que integram o Programa de Educação Tutorial do curso de Matemática. Paralelos as Olimpíadas estão outros projetos como mini-cursos exibição de sobre matemática, jornadas sobre a história da Matemática, além do atendimento a jovens vestibulandos. Tive a oportunidade de acompanhar todos nos 6 meses de pesquisa.Essas atividades, assim como as Olimpíadas de Matemática pareciam configurar momentos importantes para constituição de redes, no recrutamento e controle de novos aliados, na qual passam a ser compartilhadas as caixas-pretas da Matemática – desde os triângulos de Pitágoras aos números infinitos de Cantor, na medida em que mobilizam e envolvem estudantes, professores, instituições, materiais, objetos – humanos e não humanos.A Matemática, entre os estudantes e professores, é entendida como um “funcionamento material” e pode ser encontrada e usada “em tudo” – humanos e não-humanos, ao mesmo tempo que ela mesma é tudo. Segundo essa maneira de atuar, professores e estudantes lembram que a matemática é, muitas vezes, vista como ferramenta e não ciência. Idéia que estes não parecem discordar e nem concordar. A questão para eles é saber que a matemática é “algo exato” que vem antes de outras ciências e é utilizada, aplicada por químicos, físicos, engenheiros: “ciência que tudo se encaixa, em que tudo tem sentido”. Nesse sentido, se a Matemática é dada e está em todas as coisas, ela também deve ser entendida por características dadas, como a inteligência inata e a lógica, ou seja, na Matemática “não tem que decorar nada; pensa, deduz”. O raciocínio, portanto, é pré-requisito dos matemáticos: “matemática não é fazer mágica, é raciocínio” E, ao contrário dessas “ciências que explicam”, na matemática “a religião do matemático não ira influenciar na pesquisa”, menos por uma questão de neutralidade e mais por eles mesmo fazer parte desse sistema matemático que envolve todos.É, no entanto, nas Olimpíadas que a Matemática encontrará seus raros e poucos aliados, dotados de raciocínio e lógica, oriundos de uma inteligência inata – talvez por uma questão “safra”. Os novos aliados que não necessariamente se vincularão ao curso de Matemática, mas sim a Matemática na sua aplicação, serão novos físicos, engenheiros, médicos, químicos que compartilharão de caixas-pretas, não a deixaram inerte. Formarão uma rede em o principal não é controvérsia da Matemática ser ferramenta (técnica) ou ciência e sim que a
apliquem, distinção que questionada Latour ao lembrar que o problema tanto o construtor de fatos como o construtor de objetos é formar redes , isto é, convencer pessoas, controla-las, captar recurso e fazer com que sua alegação e objeto se propaguem.

Sessão de Trabalho 2
21/05/09 : 9:30 – 12:00
Auditório Bicalho
Controvérsias sociotécnicas – I 

– Ana Lúcia Modesto (debatedora | FAFICH/UFMG)

– Flora Rodrigues Gonçalves (PPGAN/UFMG)
Rádios Livres: uma controvérsia no ar
Este trabalho pretende discutir, a partir do estudo de controvérsias, a articulação entre as formas de organização das Rádios Livres, assim como suas multiplicidades de interação com as redes de interconexão das quais participam. Nascendo a partir de uma série de controvérsias políticas e jurídicas, as Rádios Livres estão envoltas em um complexo cenário legislativo, criando uma esfera de tensão entre os órgãos reguladores do Estado e outros porta-vozes. A partir do trabalho de campo na Radiola Livre, em Belo Horizonte; e na Rádio Muda, em Campinas, além de inúmeros outros agentes e porta-vozes que assim foram se desvelando durante o campo, várias controvérsias foram levantadas. Em um emaranhado de vozes, atores e agentes, se destacaram: a polêmica em torno da legalidade da existência dessas Rádios e aquela em torno da interferência ou não dos sinais na comunicação entre aeronaves. Por mais que essas controvérsias se perpassem e se encontrem em diversos momentos, a nossa discussão se concentrará no risco (ou não) de acidentes aéreos causados por emissões radiofônicas “clandestinas”. De um lado, a Anatel, o Ministério das Comunicações e a Infraero relatam que a situação no espaço aéreo está tornando- se caótico devido as Rádios Clandestinas, sendo um risco eminente ocorrer acidentes causados pela interferência na comunicação de operadores de vôo com pilotos de avião. Do outro lado da controvérsia, profissionais de radiodifusão, pesquisadores em rádio-propagação, engenheiros de telecomunicações e integrantes das Rádios Livres alegam que é, no limite, muito estranho que Rádios que funcionam com uma potência infinitamente menor do que as grandes Rádios Comercias venham causar interferência na comunicação dos aviões de carreira, por exemplo. Existem, nas Rádios Livres e nos órgãos reguladores, um número suficiente de forças que ora parecem exercer uma força maior no discurso, ora parecem não ter subsídios para arregimentá-lo. Também é importante salientar que, em uma situação de controvérsias, quanto mais elementos são agregados ao discurso, mais essa controvérsia sobrevive, inova, adquire outras formas. Com o desenvolvimento da etnografia, novos porta-vozes foram surgindo, como o Centro de Mídia Independente, o Intervozes e o Rizoma de Rádios Livres, e com eles novas pautas de discussões técnicas e políticas e novos mapeamentos foram também agregados à análise. Assim, acompanhando as coisas através das redes, chegamos à uma multiplicidade de agentes que nos levaram a uma nova configuração nas questões que envolvem as Rádios Livres, questões essas que pretendemos abordar neste
trabalho.

– Gabriel Pugliese (USP – Mestrando em Antropologia – FESPSP)
Discordâncias em torno da radioatividade: imagística sexual e controvérsias científicas entre “os Curie” e seus desdobramentos
De um ponto de vista geral, têm-se uma visão bastante romantizada do papel do casal Curie na história da radioatividade, como se seus trabalhos fossem amplamente complementares. Rápido demais, e talvez ingênuo, esse atavismo é acionado para explicar, inclusive, o próprio sucesso de Madame Curie como cientista num território masculino, já que o “casal” descobriu-inventou a radioatividade. Essa comunicação objetiva mostrar como tal complementaridade implicava, antes de tudo, numa relação específica de poder, constituída por meio da imagística sexual e que se desdobrou na divisão dos trabalhos e nos caminhos percorridos nas controvérsias que envolviam o fenômeno. E também, que “a” radioatividade está nos desdobramentos de seu próprio acontecimento, no lugar de puro instante que separa o tempo da eternidade. Isto é, que essa história não é só feita por vitórias, a radioatividade como conhecemos hoje não foi adquirida no momento em que foi enunciada, mas conquistada em um sistema regional de lutas, feita pouco a pouco inclusive a contragosto dos Curie. Enfim, apesar de deliberadamente trabalharem juntos, Marie e Pierre Curie (eles também) discordavam bastante em relação à natureza da radioatividade, o que pode ser observado nas comunicações publicadas individualmente durante a competição com Ernest Rutherford e seus auxiliares. Reabrindo essa controvérsia que polarizava os cientistas – a saber, se a radioatividade provinha de uma força “externa” ou “interna” aos átomos dos rádio-elementos – na qual Pierre (mas não Marie) foi vencido por Rutherford, gostaria de explorar uma parte obscura da história da radioatividade, e assim o modo como os bloqueios conferidos pelo gênero à Marie Curie eram deslocados por uma micropolítica singular: a radiopolítica.

– Elena Calvo González (PPGCS/UFBA)
‘Se meus neutrófilos são baixos, eu também tenho um pé na cozinha?’: usos políticos da tecnologia de medição de leucócitos na articulação de idéias sobre diferença “racial
O presente trabalho explora o lugar polêmico da tecnologia de contagem de leucócitos (leucograma) na articulação de idéias sobre diferença “racial” dentro do contexto do uso político da associação entre contagem baixa de leucócitos (leucopenia) e o “corpo negro” feita por diversos atores no Brasil contemporâneo, tais como cientistas, ativistas políticos da área denominada “Saúde da População Negra”, sindicalistas e donos de indústrias. Se por um lado a categoria simbólica de “sangue”, enquanto substância biológica que marca parentesco e ancestralidade, se apresenta historicamente no Brasil nos discursos sobre as características “raciais” da população do país, por outro lado o desenvolvimento e a aplicação de biotecnologias recentes, sejam estas de massa tais como a analisada neste trabalho, ou mais restritas, como a identificação de marcadores genéticos de ancestralidade, tem sido incorporados em vários contextos de (re)formulação de discursos e práticas, tanto científicos quanto leigos, sobre a relação entre biologia e “raça”. Assim, poderia se questionar se a aplicação e difusão destas novas tecnologias engendrariam o que, usando o termo de Paul Rabinow, seria um novo tipo de biosociabilidade em torno à diferença “racial”. No entanto, é preciso avaliar até que ponto a constituição desta nova biosociabilidade incluiria elementos e categorias pré-existentes à introdução destas novas tecnologias, inclusive no desenho e implementação das mesmas. Para tanto, analiso etnograficamente dois estudos de caso, ambos realizados na cidade de Salvador ou sua região metropolitana. O primeiro versa sobre o uso da leucopenia como especificidade “racial” empregada tanto por ativistas da área política da Saúde da População Negra quanto por alguns cientistas em discussões em torno à necessidade de estabelecer valores de referência “raciais” para o leucograma. O segundo estudo de caso foca-se nos argumentos empregados por parte de industriais sobre a natureza “racial” da leucopenia para explicar a existência desta em operários da indústria química, atribuída por outras fontes à existência de contaminação por benzeno entre estes trabalhadores. O intuito é indagar de que maneira os significados comuns na leitura de diversos atores da contagem baixa de leucócitos (leucopenia) enquanto condição do “corpo negro” se dão dentro de processos que ligam corpos em redes locais, nacionais e internacionais, em momentos históricos passados e contemporâneos. Nestes processos, o leucograma se apresenta como uma tecnologia tanto imersa em redes de significação racial prévias quanto influenciando o surgimento de novas maneiras de se falar em “raça” no Brasil hodierno.

– Carolina Cantarino Rodrigues (IFCH/UNICAMP)
Relações entre ciência e políticas de identidade no Brasil contemporâneo
Pensar na presença da ciência nas políticas de identidade, hoje, é pensar no foco que a existência ou não de identidades no plano da natureza tem recebido, em detrimento do combate ao racismo e à desigualdade. Esse movimento está presente na afirmação de uma noção de “raça” marcada pela biologia, particularmente no campo denominado “saúde da população negra” e seus investimentos na prevenção e tratamento de “doenças raciais”. Pode ser também observado no acionamento da miscigenação pela chamada genética de populações. Os resultados de seus mapeamentos genéticos apontariam para uma “comprovação científica” de que “não existem raças”. O que faria sentido, dessa perspectiva, seria a miscigenação, a “verdadeira essência” do povo brasileiro, desvelada pela ciência. Proponho discutir “raça” e “miscigenação” enquanto identidades que estão sendo produzidas – e contestadas – no Brasil contemporâneo, a partir da rede de relações tecidas entre cultura, ciência, história e política. Minha aposta é numa crítica a essa produção identitária porque ela se apóia numa política da representação que reproduz dicotomias – aparência e essência, fato e valor, ciência e política – num movimento intenso de hierarquização desses predicados e de produção de substâncias. A afirmação de uma autoridade ou legitimidade científica – que vem sendo acionada para justificar posições políticas no debate sobre ações afirmativas no Brasil – depende da reprodução dessa política. Como os conhecimentos da biologia e da antropologia estão sendo acionados pelos sujeitos que se constituem nessa disputa?

Sessão de Trabalho 3
22/05/09 : 
9:30 – 12:00
Auditório Baesse
Inovações e modelagens sociotécnicas – II 

– Ronaldo Noronha (debatedor | Sociologia/UFMG)

– Luciana dos Santos (FFLCH/USP)
A epidemia de cólera-morbus em Pernambuco em meados do século XIX: a construção de práticas e saberes médico-sanitários no combate à doença
O trabalho proposto consiste em descrever as particularidades das configurações sociais que se desenham na província de Pernambuco a partir da emergência da epidemia de cólera-morbus deflagrada na segunda metade do século XIX. Embora o tema sugira caminhos diversos, trata-se de um programa de trabalho dirigido a descrever as práticas e discursos que emergem no contexto assinalado, procurando na análise da documentação histórica disponível e, que, no caso desse trabalho, consiste em um conjunto de documentos produzido pelos missionários capuchinhos que estiveram envolvidos no programa de combate à doença e na documentação oficial composta por relatórios da Presidência da Província e da Comissão de Higiene e Saúde Pública de Pernambuco, que acionaram saberes e práticas para lidar com o evento. Nesse sentido, o que se procurará apresentar será uma etnografia da emergência da epidemia de cólera-morbus na província de Pernambuco, evidenciando o processo de construção de saberes e práticas que se voltaram para pensar e remodelar o espaço público e disciplinar o corpo, com foco para seus atores, os missionários capuchinhos e a estrutura médico-sanitária que se constitui a partir da instituição de equipamentos para controle e combate à doença, como os lazaretos destinados à quarentena dos doentes, as enfermarias e o controle dos portos e, que, também, se propôs a discutir e pensar o processo de saúde/doença. Trata-se, sobretudo, de um esforço etnográfico, cujo objetivo é revelar a importância da ciência médica e das missões religiosas nas práticas civilizatórias colocadas em movimento durante o Segundo Reinado e que visavam à integração das populações indígenas e “caboclas” à nascente Nação Brasileira e lançou mão de práticas e saberes que propunham o controle do espaço público e a disciplina dos corpos nos seus programas e ações, sob a retórica da civilização. Nesse sentido, considero que a categoria corpo configura uma via de acesso importante e que deve orientar a análise do corpus documental selecionado. Para essa empreitada, tomaremos como ponto de partida teórico a crítica pós- moderna expressa em autores como Bruno Latour e Isabele Stengers, que se esforçaram em esmiuçar o funcionamento da ciência, acompanhando cientistas em seus laboratórios, além de tratar de relações diversas e mais amplas que ultrapassam o campo da ciência. Tal crítica vem colocando em xeque o consenso que considera a racionalidade das ciências e, principalmente, o papel da ciência médica e a construção de uma visão de corpo por esta. O principal rendimento dessa crítica realizada pela chamada escola das Sciences Studies, consiste em questionar a separação entre a ciência e a sociedade, apontando as contradições existentes entre o estatuto do cientista e o modo de se fazer ciência, assim como, a tentativa de superação de dicotomias como natureza/sociedade, humanos/não humanos, entre outras que acompanham a construção da disciplina antropológica ao longo do tempo.

– Camila Becattini P. de Caux (MN/UFRJ – Mestranda em Antropologia – LACS/UFMG)
Notas sobre equívocos cruzados em um Distrito Sanitário Especial Indígena
Esta comunicação visa refletir sobre os atendimentos biomédicos realizados no Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Negro. Minha reflexão partirá do contato entre os profissionais biomédicos contratados pelo SUS, os pacientes tukano, arawak ou maku, habitantes da região, e os Agentes Indígenas de Saúde. Trabalharei com uma noção de controvérsia não assentada em grandes eventos ou polêmicas, mas mantida por pequenos desencontros cotidianos, gerados pelo choque de concepções e práticas terapêuticas. O trabalho partirá da descrição de duas situações de atendimento ocorridas em 2004, a partir das quais será feito um exame dos mútuos equívocos e desentendimentos entre profissionais biomédicos e pacientes indígenas. O objetivo reside justamente em explorar os “ruídos” que emanam da conjunção de práticas terapêuticas, a fim de percorrer algumas regiões fronteiriças dos regimes de verdade das cosmologias envolvidas. Devo deixar claro que essa comunicação não trará, no ponto atual da pesquisa, resultados de um trabalho de campo realizado pela autora; trata-se, antes de tudo, de um estudo inicial, baseado em fontes bibliográficas, sobre as possíveis implicações desse contato.

– Marcos Castro Carvalho (IMES/UERJ – Mestrando em Saúde Coletiva)
Quando a abertura de caixas-pretas é êmica: distensões e fricções de Natureza e Cultura em um laboratório de neurociências
Pautando-se em dados preliminares, a exposição pretende delinear questões iniciais surgidas no decorrer de um processo – ainda em andamento – de “experimentação etnográfica” em meio a neurocientistas. Atuantes na seara auto-intitulada de “neurobiologia do comportamento e das emoções”, tais cientistas vêm, paulatinamente, consolidando programas de pesquisas ancorados em uma gama de experimentos com voluntários humanos. Contudo, muitos/as dos/as pesquisadores/as já desenvolveram, em momentos anteriores de suas trajetórias acadêmicas, estudos com animais, passando, progressivamente, a centrar-se com exclusividade nos experimentos com humanos. A própria trajetória do laboratório em questão revela esse movimento do animal ao humano. Inicialmente voltado em larga escala para investigações sobre primatas não-humanos, no correr da última década passou a fomentar uma série de pesquisas relacionadas ao comportamento humano. Tal processo possibilitou um fértil relacionamento com psiquiatras do Instituto de Psiquiatria, culminando no surgimento do Laboratório Integrado de Pesquisas sobre o Estresse, cuja principal questão de interesse clínico e científico diz respeito à fisiologia do Transtorno do Estresse Pós-Traumático. Desse modo, a instrumentação das psicologias evolucionista e cognitivo-comportamental acaba por orientar em boa medida o trabalho destes/as neurocientistas envolvidos/as com a neurofisiologia/psicofisiologia humana. Além disso, tanto a fundamentação teórica quanto os pressupostos propriamente metodológicos que balizam as atuais pesquisas com humanos, estão ancoradas em uma vasta bibliografia e experiência de pesquisa com animais. No entanto, no decorrer de minha imersão etnográfica, polêmicas apaixonadas acerca de postulados teórico- metodológicos e em torno da singularidade ou não do humano frente aos outros animais foram suscitadas
no cotidiano da produção e elaboração do conhecimento neurocientífico. Logo, intenta-se aqui iniciar uma reflexão a respeito de tais delicadas controvérsias internas ao laboratório, a partir das relações possíveis entre Natureza e Cultura articuladas pela cosmologia ocidental naturalista. Assim, por um lado, como geralmente narrado pelos sujeitos, tanto a trajetória acadêmica dos/as neurocientistas quanto a história dos programas de pesquisa desenvolvidos pelo laboratório tematizam certa “passagem” do animal ao humano, cara à nossa mitologia evolucionista. Passagem essa que corroboraria com a assertiva comum entre os/as pesquisadores/as de que “o humano é antes de tudo animal”. Por outro lado, o movimento radical de naturalização do humano parece não se mostrar tão estável, a partir do momento em que ele pode ser colocado em xeque, revelando tensões, deslocamentos e (im)permeabilidades que necessitam ser negociadas no momento de se pensar as fronteiras entre “corpos humanos” e “corpos animais”.

– Rui Harayama (Mestrando em Antropolodia LACS/UFMG)
O debate em torno da ética em pesquisa biomédica: parentesco científico e rede sócio-técnica
O presente trabalho pretende realizar uma aproximação da teoria do parentesco com a rede sócio-técnica dos pesquisadores inseridos no debate acerca da ética em pesquisa biomédica no Brasil. Para tanto, realizamos um levantamento dos pesquisadores que incluíram dentro de seus currículos, na Plataforma Lattes, vínculos com o CONEP (Conselho Nacional de Ética em Pesquisa). O desenvolvimento dessas informações possibilita-nos traçar grupos de descendência e afinidade sócio-espacialmente localizados. Desse modo, pretendemos associar o parentesco científico à rede sócio-técnica que permeia o debate em torno da ética em pesquisa biomédica, mapeando as relações que cada grupo estabelece com determinadas correntes teóricas, instituições acadêmicas, entre outros atores. Que o parentesco seja um modo de investigação privilegiado na pesquisa dos grupos sociais aos quais se dedica a antropologia, isso já se evidencia desde a obra de Morgan (1877). Considerada como “mola mestra da disciplina” (Fonseca, 2007:9), após um período de pouca investigação – sobretudo no estudo das ‘sociedades complexas’ – o parentesco volta revigorado por meio da revisão e influência da teoria feminista e pós-estrutural. Nesse novo enfoque, as pesquisas concentram-se mais nos termos de ‘conectividade’ (ibidem: 20) do que na compreensão da passagem entre natureza e cultura. Essa mudança no eixo analítico possibilita ao pesquisador um novo olhar sobre a biomedicina, ou seja, investigar os modos como os cientistas ‘conectam’ entre si nas suas ‘genealogias intelectuais’. Desse modo, pretendemos aproximar a teoria antropológica do parentesco à rede sócio-técnica; tencionando demonstrar que o estudo do esquema genealógico dos pesquisadores, somado ao estudo qualitativo da sua rede de relações de humanos e não- humanos, pode ajudar na compreensão do modo como as redes sócio-técnicas se estabelecem sócio- espacialmente.

Sessão de Trabalho 4
22/05/09 : 9:30 – 12:00
Auditório Bicalho
Controvérsias sociotécnicas – II 

– Andréa Zhouri (debatedora | Sociologia/UFMG)

– Joana Cabral de Oliveira (USP /Doutoranda em Antropologia)
O lugar do sensível nas práticas de classificação botânica
A sistemática, ramo da ciência responsável pelo estudo e produção de classificações, é sem dúvida uma das áreas mais antigas da ciência. Acompanhando alguns botânicos em suas pesquisas na área da sistemática botânica, busco apresentar o lugar que o sensível está tomando nessa prática científica, tendo em vista as atuais mudanças pelas quais a sistemática vem passando com o desenvolvimento da biologia molecular e das técnicas genômicas. Essa análise tem como pano de fundo, ou como ponto de contraste, um estudo sobre as classificações botânicas dos Wajãpi, um grupo Tupi do Amapá. Assim, parto da experiência de dois campos distintos (Wajãpi e os Laboratórios de Sistemática Botânica) para refletir comparativamente sobre o lugar ocupado pelo sensível na produção de taxonomias botânicas em ambos os contextos.

– Orlando Calheiros (MN/UFRJ – Doutorando em Antropologia)
Uma turbamulta de baleias incertas, fugidias e semifabulosas: notas de uma praxiografia
Há tempos a palavra-conceito método deixou de significar simplesmente aquilo que descobre ou representa realidades para transformar-se em um agente ativo na promulgação de mundos possíveis. Uma formulação que desloca o questionamento “o quanto de realidade este método revela?”, fundamental de nossa ontologia, para “qual é a realidade promulgada por este método?”. Partindo deste pressuposto, podemos complexificar ainda mais o problema nos perguntando: o que acontece quando diferentes métodos se voltam para – noção duvidosa – o mesmo objeto? Múltiplos objetos ou objetos múltiplos? E mais, como entender de que maneira tais métodos e, conseqüentemente, suas realidades se relacionam uns com os outros? Naturalmente, questões que só fazem sentido a partir de um engajamento empírico, uma exploração do método-na-prática. Interno a este modo de inscrição e descrição, esta apresentação procura oferecer algumas considerações sobre como um grupo de cetólogos, auto-intitulados Grupo de Estudos de Mamíferos Marinhos da Região dos Lagos (GEMM-Lagos), coordenam sua produção científica a despeito das distâncias entre os diferentes agenciamentos metodológicos que a atravessam. Para tanto, analiso as chamadas metodologias de produção de dados primários utilizadas pelos cetólogos, o monitoramento in situ e a avistagem: uma voltada para o obtenção de testemunhos que estabelecem um bloco de aliança entre cetáceos e humanos, cuja aliança é operada por uma substância tóxica; outra voltada para a produção contínua de dados estatísticos sobre a abundância e utilização do habitat pelos cetáceos. Em suma, duas perspectivas distintas que, por conseqüência, projetam substâncias heterogêneas a partir do que, a princípio – condição de possibilidade da prática científica -, seria um mesmo objeto/animal. Neste trabalho, procuro esboçar um quadro das relações possíveis entre estas substâncias, de modo que fique claro que as associações entre elas não são uma conseqüência imediata condicionada pela pré-existência de um todo, mas sim, o resultado de um complexo deslocamento das próprias partes. Um duplo trabalho para os cetólogos, que não devem apenas extrair testemunhos fidedignos de seus objetos, mas também fazê-los se relacionar com objetos da mesma família, ora em regime de associação e incorporação, ora em regime de contradição e exclusão, e deste conjunto de relações constituir um plano de referência consistente para suas proposições.

– Tiago Ribeiro Duarte (UK Cardiff / Doutorando em Sociologia)
Aquecimento Global e Elaboração de Políticas Públicas: Abordando o Problema sob a perspectiva da
“Terceira Onda de Estudos Sociais da Ciência”.
A formulação de políticas relacionadas ao aquecimento global é uma preocupação central na agenda de políticas públicas de diversos países, inclusive do Brasil, nação industrialmente emergente e onde se localiza a maior floresta tropical do planeta. De um modo geral, esta preocupação é justificada pelas pesquisas recentes realizadas por cientistas de diversas especialidades apontando que desde o início da era industrial houve uma mudança climática rumo a uma elevação das temperaturas do planeta. Esta elevação das temperaturas seria causada pelas emissões de dióxido de carbono e outros gases estufa na atmosfera fruto da atividade humana. Apesar de esta teoria ser dominante na comunidade científica e, de um modo geral, apresentada como consensual na mídia, há um grupo de cientistas, usualmente chamados de céticos, que dela discordam. Há diversos argumentos utilizados pelos céticos, mas de uma forma geral, estão compreendidas nas seguintes idéias centrais. Alguns defendem a inexistência do aquecimento global. Outros afirmam que o planeta está de fato passando por um processo de aquecimento, porém, ele não seria causado pela ação humana, mas por processos naturais. Além disso, alguns ainda afirmam que o aquecimento global seria benéfico para as sociedades humanas, trazendo mais prosperidade. Os argumentos dos céticos têm sido comumente usados, especialmente nos EUA, para justificar o não comprometimento com metas de redução nas emissões de dióxido de carbono, o principal gás estufa. Considerando haver esta controvérsia na comunidade científica, surge o seguinte dilema: Devemos prosseguir com as políticas de combate ao aquecimento global ou devemos abandoná-las e investir nossos recursos para lidar com outros problemas? A minha pesquisa procura lidar com este problema, isto é, com o desenvolvimento de critérios que auxiliem os formuladores de política a decidirem em qual dos lados desta controvérsia se embasar para tomar as melhores decisões possíveis. Para tanto, amparo-me na “Terceira Onda de Estudos Sociais da Ciência”, isto é, a nova vertente da sociologia da ciência que vem sendo desenvolvida na Universidade de Cardiff por Harry Collins e Rob Evans. Segundo estes sociólogos, em contextos de tomada de decisão política relacionadas ao conhecimento científico e tecnológico, devemos nos basear no aconselhamento técnico dos especialistas com maior perícia no tópico em pauta. O grau de perícia de um especialista é determinado pelo conhecimento tácito que possui, isto é conhecimento que não pode ser reduzido a um conjunto de regras formais. Assim sendo, o grau de relevância que deve ser atribuído à opinião dos diferentes especialistas deve ser condicionado pelo grau de conhecimento tácito possuído por cada um deles. Deste modo, em minha pesquisa procuro avaliar os diferentes tipos e graus de perícia dos cientistas envolvidos na controvérsia do aquecimento global. Meu intuito central é oferecer uma avaliação de qual peso deve ser dado aos diferentes indivíduos envolvidos neste debate, com o intuito de estabelecer uma base para a tomada de decisões políticas vinculadas ao clima.

– Carlos Emanuel Sautchuk (PPGAS/UnB)
Antropologia da ciência e da técnica no Brasil
Neste trabalho apresento estudo em andamento, cujo objetivo é traçar um panorama da produção recente da antropologia brasileira sobre aos temas da ciência e da técnica. Os trabalhos analisados são divididos em quatro grupos, conforme seus objetos. O primeiro refere-se aos estudos etnográficos sobre a prática científica moderna, que abordam a dimensão cosmológica da ciência, as controvérsias envolvidas na produção e difusão do conhecimento científico, além das relações entre cientistas e com seus objetos de pesquisa. Em seguida abordo as pesquisas sobre os desdobramentos das inovações em biotecnologia (como as tecnologias reprodutivas e os medicamentos) nos regimes da vida; tais abordagens enfatizam as transformações nas concepções de corpo e pessoa e as controvérsias no campo normativo. Outra corrente é caracterizada pela renovação das pesquisas em cultura material, que dão conta das propriedades socioculturais e da agência dos não humanos (artefatos, animais etc.), dos fundamentos cosmológicos de sua estética, além da reconfiguração do saber-fazer sob a lógica do patrimônio cultural. Por último, resenho trabalhos que abordam os saberes sobre o ambiente pelo viés dos conflitos de perspectivas (conhecimentos “tradicionais” e “científicos”), sobretudo no âmbito das controvérsias no cenário ambientalista e das disputas enquadradas pela noção de intercientificidade.

Pôsteres

20 a 22/05/2009 : 9:30 – 18:00

Saguão do Auditório Sônia Viegas

Inovações, modelagens e controvérsias sociotécnicas