Mesa 1 (terça-feira, 16, tarde). Atmosferas cruzadas
Heid Jerstad (Univ. Edimburgo), Cristián Simonetti (PUC-Chile), Carlos Arturo Navas Iammini (Instituto de Biociências, USP). Debatedor: Mauro William Barbosa de Almeida (UNICAMP). Mediador: André Sicchieri Bailão, coord. (USP).
Resumo: Recentes investigações antropológicas têm se atentado às dimensões pós-sociais dos modos de existência e modos de habitar nas relações entre seres, artefatos e grupos. Entre exemplos estão estudos de cultura material, de deslocamentos, processos de habitação, das paisagens e suas relativas constituições e modificações pelas relações entre múltiplas entidades, como seres humanos, seres vivos, coisas e processos não-humanos. A atmosfera é corriqueiramente mantida deslocada desses estudos, que, muitas vezes, situam-se e limitam-se às superfícies terrestres e aquáticas. Entretanto, narrativas de grupos com quem os antropólogos trabalham, sejam agricultores, cientistas naturais, povos indígenas ou movimentos sociais, deslocam a atmosfera e os múltiplos e complexos processos, fenômenos e mudanças a elas relacionados para o centro das investigações a respeito de seus modos de existência e de habitar. Essa mesa tem por intuito explorar experiências em diferentes dimensões, escalas e locais que pensem e trabalhem atmosferas, em suas mais distintas configurações ontológicas.
Mesa 2 (quarta-feira, 17, tarde). Vida multiespécie
Uirá Garcia (UNIFESP), Igor Alexandre Badolato Scaramuzzi (USP), Felipe Sussekind Viveiros de Castro (PUC-RJ). Debatedor: Guilherme José da Silva e Sá (UnB). Mediadora: Joana Cabral de Oliveira, coord. (UNICAMP),
Resumo: Nas últimas décadas a antropologia tem sido impulsionada a voltar um olhar cuidadoso para os não-humanos com os quais as comunidades que sempre nos interessaram tecem a vida. Convivências, cooperação, predação, competição, aprendizado mútuo, trocas de agressão e afeto são algumas das relações que estão no cerne da produção da vida em comunidade, a qual não podem mais ser restringida ao humano, ao social, a menos que possamos alargar tais pilares conceituais e abarcar a multiplicidade de plantas, animais, astros, ventos, montanhas e artefatos com os quais convivemos. Em seu impulso característico de produção de conhecimento, a desestabilização antropológica foi operada em grande medida pela etnografia. Muitos grupos nos colocaram frente a agentes e sujeitos que oficialmente ficavam em nossa ontologia moderna relegados ao polo da Natureza, do Objeto, e nos fez incluí-los de modo efetivo em nossas descrições. De outro lado, a aproximação crescente da antropologia com as ciências biológicas enfatizou que mesmo da perspectiva de nossa mais cara teoria – a da evolução – a humanidade teve sua ontogênese marcada por relações com diversos outros organismos. Não sendo mais possível pensar a espécie humana em si e por si, impõe-se a necessidade de notar antes processos de co-evolução. Essa mesa visa, assim, trazer elementos etnográficos de distintas regiões para explorar formas de descrição que nos possibilite explorar os limites da linguagem e do fazer antropológico quando esse se volta a miríade de não-humanos que nos atravessa.
Mesa 3 (quinta-feira, 18, tarde). Desantropologias
Stelio Marras, coord. (USP), Pedro de Niemeyer Cesarino (USP), Renzo Taddei (UNIFESP). Debatedor: Pedro Peixoto Ferreira (UNICAMP). Mediadora: Marisol Marini (USP).
Resumo: A provocação quer-se clara: como livrar-se das antropologias antropocêntricas? Ou como não reduzir as descrições do real ao cultural ou social? Desantropologizar para reantropologizar. Outra atenção: não bem aos entes, mas aos entres. Entreviver. Para uma outra atenção, outras tensões. Quais? Os impactos na teoria antropológica já se fazem sentir e se avolumam mais e mais quando etnografias e conceitos se dedicam ao menos e ao mais que humano. Às urgências de um particular tempo de resistência parecem corresponder urgências na criação não menos particular de aparatos intelectuais que nos façam desencontrar – e rumo a reencontros antes insuspeitados.
Mesa 4 (sexta-feira, 19, tarde). Feitiçarias contrapolíticas, contrafeitiçarias políticas
Clara Flaksman (Museu Nacional), Marina Vanzolini Figueiredo (USP), Renato Sztutman, coord. (USP). Debatedor: Jean Tible (USP). Mediadora: Daniela Tonelli Manica (UFRJ).
Resumo: Como disse Starhawk, “a fumaça das bruxas queimadas ainda impregna as nossas narinas”. E, como concluiu Stengers, somos herdeiros de uma operação de erradicação cultural e social que se fez em nome da razão e da civilização. Com Pignarre, ela mostrou que esta operação, que queimava feiticeiras em praça pública e condenava as crenças em tais práticas, deu-se concomitantemente com a produção de um tipo ainda mais poderoso de feitiçaria, alienante e fetichista, aquele que emanava do sistema capitalista. Daí o alerta: para se proteger desse sistema supostamente infalível é preciso reapropriar-se da feitiçaria, é preciso nomear-se feiticeiro para então dar vazão a um desenfeitiçamento em cadeia (saber sobre o qual nos teria sido roubado). Mas como fazê-lo? Não se trata tanto de resgatar um passado, mas de compor alianças com práticas e agentes que permaneceram e permanecem marginais ao capitalismo e à cristã-modernidade de modo geral. O debate que aqui propomos pretende cruzar discussões sobre o ativismo neopagão contemporâneo, num combate aberto com o modo de vida capitalista, com aquelas advindas dos estudos sobre povos indígenas e sobre religiões afrobrasileiras, mundos nos quais feitiçarias e contra-feitiçarias jamais deixaram de operar, revelando-se muitas vezes mecanismos de resistência e conjuração do poder.